sábado, 20 de março de 2010

VEJA, VEJA...

Vejam oq eu achei na net.




Para surpresa de muitos de vocês, eu conto aqui: o Cascão já tomou banho, sim. E em grande estilo, em público, na televisão. Durante meses.

Mas talvez vocês tenham que voltar no tempo, na memória, para buscar a lembrança do grande acontecimento. Ou os mais jovens podem perguntar aos pais. Porque aconteceu há muito, muito tempo, quando a televisão brasileira ainda era em branco e preto.

E foi assim, ó:

Estava eu vendo televisão em casa, depois de um dia corrido desenhando minhas tiras de histórias em quadrinhos, ainda na redação da Folha, quando vejo na telinha um comercial em desenho animado, onde o Cebolinha aparecia espiando por uma janela, admirando-se e falando: "Olha o Cascão tomando banho". Daí, na cena seguinte, aparecia o Cascão, peladinho, debaixo do chuveiro, esfregando-se, feliz, comentando: “Mas só se for com o chuveiro L..." e vinha a marca do tal chuveiro, que está aí, na praça, até hoje.

Eu caí duro, fiquei estatelado na frente da televisão, sem saber o que pensar e muito menos o que fazer.

Tudo que eu estava plantando nos jornais como características marcantes, "imexíveis", dos meus personagens, caía por água abaixo, literalmente, no caso do filme que eu assistira.

Para piorar tudo, dali a pouco o filme passa de novo.

Era uma campanha com ares de bom planejamento e divulgação.

Corri para o telefone da esquina (ainda não tinha telefone no meu pequeno apartamento) e liguei para a emissora de televisão que havia divulgado o filme. Expliquei o fato, disse que os personagens eram meus e que eu não autorizara nada daquilo mas eles responderam que não poderiam fazer nada; o filme tinha sido enviado por uma agência de publicidade e que eu me entendesse com a agência.

No dia seguinte chamei a agência, que explicou que o filme havia sido produzido por outra empresa. Eu que me entendesse com essa empresa.

Deram-me o telefone do produtor, um desenhista de animação bem conhecido na praça, e eu liguei pra ele. E daí começou a choradeira.

O tal produtor se desesperou com meu pedido. Dizia que se eu retirasse o filme do ar ele e seu estúdio "quebrariam". E vários profissionais, desenhistas como eu, ficariam sem emprego. Que eu aproveitasse a oportunidade do filme estar no ar para os personagens se tornarem mais conhecidos. E que a campanha não duraria muito. Só seis meses.

Eu tentava argumentar mas ele vinha com mais lamúrias, com mais choro, com mais pedidos de perdão ou condescendência.

Tanto fez e tanto chorou que eu cedi. Desde que a campanha não passasse de seis meses.

Ele agradeceu emocionado, jurou que a coisa seria como combinamos e eu fiquei, durante os meses seguintes, assistindo ao banho pirata do Cascão.

Eu e todo o público.

Vale dizer, aqui, enquanto não chego ao final da história, que eu não tinha, ainda, naqueles tempos iniciais de carreira de desenhista, conhecimento dos direitos legais que qualquer criador tem. Eu poderia ter chamado um advogado para notificar a emissora de televisão, obrigando-a a tirar o filme do ar. Poderia notificar e eventualmente processar a agência que veiculou o filme e poderia, também, notificar e processar a empresa produtora.

Mas eu ainda não havia criado meu departamento comercial, meus serviços jurídicos e nem estava preparado para entender bem o alcance daquela pirataria. Impensável, hoje.

Mas como disse antes, a história não acabou ali.

Passaram-se os tais seis meses concedidos e o filme continuou passando.

Liguei de novo para o desenhista. E pedi para ele cumprir o combinado.

Mas, de novo, ele veio com a maior choradeira, explicando que o cliente precisava de mais exposição, que o filme custara muito caro, a divulgação também, e que eles precisavam de mais tempo no ar.

Tanto chorou, tanto pediu só mais três meses, que eu concordei para não continuar ouvindo tanta lamentação.

E fiquei assistindo, por mais alguns meses, meus personagens falando do tal chuveiro.

Até que os três meses se passaram, o filme continuou no ar e daí eu fiquei brabo.

Telefonei sem paciência nem vontade de ouvir mais nenhuma explicação.

Exigi a retirada do filme ou...

Quando o produtor sentiu que era definitivo, que eu estava decidido, mesmo, concordou. Pediu mais três dias para as providências técnicas e o filme do banho do Cascão saiu do ar e ficou para a história.

Para a história mesmo, mas sem cópias nem documentos.

Ficou apenas na memória. Na minha e na de muitos que viram televisão em branco e preto.


Gostaram? se pegarem creditem^^

Um comentário:

Joana Bernardo disse...

Obrigada pela parceria! Já estou colocando você! Gostei do link-me, com a Marina que eu adoro, obrigada!